Citação do dia

"... não basta construir habitações, as habitações precisam de infraestruturas…"

Eng.º António Venâncio (2018)

LUANDA, Ontem, Hoje e Amanhã

A cidade de Luanda comemora, nesta sexta-feira (25 de Janeiro), o 443.º aniversário da sua fundação, e enfrenta antigos problemas de saneamento, trânsito automóvel desordenado e expansão habitacional paradoxal. Luanda está inserida na lista de cidades em vias de desenvolvimento com rápido crescimento populacional e urbano.
O rápido crescimento urbano e desordenado da capital deu origem a vários problemas como: Degradação das condições de saneamento básico, Dificuldade de acessos por falta de estradas secundárias e terciárias em bom estado, Construção em lugares propensos a inundações e desabamentos, Trânsito caótico;  Entre outros fenómenos que ocorrem na capital.
            Embora muito querida por nós, Luanda está acarretar problemas que carecem de uma resolução urgente !


Entrevista: Engenheiro António Venâncio
No tocante a Cidade de Luanda, precisamos dividir a cidade em duas grandes áreas: A Cidade consolidada e a Cidade Nova. A cidade Nova não está a receber infraestruturas adequadas e dimensionadas para o nível de população.


Na cidade consolidada foram erguidas infraestruturas que acabaram por ser traídas pelo número de pessoas que vieram viver pra parte consolidada, ou, seja quando falamos da cidade antiga que cresceu para o José Pirão e Alvalade, e mais, estamos a falar de uma cidade que evidenciou uma explosão no seu crescimento com novos edifícios e por consequência,

aumentou o número da população residente na CIDADE CONSOLIDADA. Não houve um redimensionamento das infraestruturas que estavam enterradas, então elas colapsaram.
Por outro lado, os Esgotos residuais e Drenagem, das águas pluviais. O que acontece é que temos o sistema orditário, tudo misturava-se, os esgotos fecais e as águas pluviais iam todos para a Baía de Luanda, o que começou a contaminar em excesso, vimos que era preciso separar e começou-se então a separar as águas negras das águas claras e fez-se um emissário marítimo para mandar para longe as águas residuais. Mas isso não resolveu o problema.


As Contribuições “a nível da rede esgotos” que vêm da Sapú e outros Bairros têm afetação também no centro da cidade, e quando a fizemos projectos na parte consolidada temos que ter em conta as contribuições que vêm do Cazenga , Rangel, Golf, Coelho etc, toda análise deve ser feita em toda essa área geográfica e isso não aconteceu.
A taxa do crescimento populacional continua a crescer a sua percentagem ao Ano, e as infraestruturas continuam não preparadas para toda essa carga de fluxos Hidrológicos e também de resíduos fecais que são produzidos por este grande número de pessoas de cerca de 9000.000 de pessoas.
QUAL A SOLUÇÃO?
Criar eixos de fuga para o interior, facilitando os movimentos pendulares do interior para cidade e vice-versa. Toda aquele que entra para cidade deve poder sair a qualquer momento e sentir conforto. Se as via e transportes facilitassem o movimento Huambo-Luanda e outros, de forma confortável diminuiria o número da população.
Luanda daqui a cinco anos poderá ser uma cidade com muitas carências a nível do saneamento maiores do que as atuais. As coisas estão a degradar cada vez mais por causa do número de população.
“Defendo que, Luanda como capital de Angola, já não serve.... Para uma capital que se coloca ao nível das capitais das outras nações do Mundo, Luanda não tem condições. Teremos que escolher outro ponto do país para a partir dai contruirmos uma cidade. E isso poderá ser feito de modo faseado ao longo dos anos, mas já não conseguiremos transformar Luanda numa pérola ou capital de mais prestígio”.

Todos os anos são mais de trezentas mil pessoas aproximadamente para capital, o que nos leva a pensar que daqui a mail 2 (dois) ou 3 (Anos) teremos mais o aumento de mais um milhão na população, e não temos nem infraestruturas, nem habitações suficientes para mais 300.000 Habitantes.
Não basta construir habitações, as habitações precisam de Infraestruturas
O nível de importância que damos à habitação, não é o mesmo que damos as Infraestruturas. Estamos a falar de infraestrutura de apoio às habitações e de Infraestruturas de ligação com a Cidade Consolidada, o que nós chamamos de conurbação. Não tento esse pensamento como ponto de partida, não podemos dizer que as obras do KILAMBA já estão concluídas.

O Caso do Kilamba:

As casas do Kilamba terminaram, está pintada, tem luz etc. Mas ainda está em falta Infraestruturas, Estação de tratamento de Águas (ETAR E ETARS) e uma rede de encaminhamento das mesmas águas a um destino final, o que ainda não existe.... As pluviais no kilamba vão aonde calhar....
O Kilamba não está concluído
O Caso do Zango:
Quando falamos de construir 500 casas, é pacífico... Não se constroem milhares de casas umas atrás da outra... O Zango é uma Falha...
Quando tiramos a população de um lado para o outro, não devemos pensar exatamente nelas, mas nas suas posterioridades “Os Filhos” . Quando pensamos no Zango devíamos estar a pensar no crescimento de uma cidade, com Bibliotecas, com estádios de futebol, museu, escolas e universidades, e em vez disso pensamos nas casas...
            A frase mais o horríveis que houve na minha vida como profissional de construção foi: Vamos construir Um milhão de casa.... Não se constroem casas, Constroem-se CIDADES. E é esse espírito que levou a construir os zangos.


Entrevista: Engenheiro Durbalino De Carvalho

A rede de esgoto faz parte do conjunto de problemas de luanda. Ao falar deste mesmo problema devemos ter em conta 3 factores:
§  Luanda consolidada: a rede de esgoto é unitária e de época colonial, em que se aproveitou o relevo da cidade para fazer escoar a agua das redes no mar. Deve-se analisar o tratamento das águas pluviais, e o maior problema é que essas águas vêm acompanhadas de alguns resíduos/detritos que criam constrangimentos na evacuação das águas.
§  Novas centralidades: Elas estão muito longe do ponto da cidade que se faz o escoamento das águas residuais (mar), pensamos as vezes que a solução parte em criar bacias que escoem as aguas mas temos observado na via expressa que quando há acumulação de aguas das chuvas e aguas residuais a bacia de retenção não consegue suportar causando problemas no transito.
§  Musseques (não consolidada): é um caso muito sério. Sabemos acompanhando alguns projectos do executivo associados ao realojamento e nesse processo vamos colocando as infraestuturas nessas localidades e em paralelo vai se minimizando algumas soluções de vala aberta como na Samba, para escoamento das águas residuais e termos soluções, não as melhores, mas soluções que coadunem com a realidade dos nossos musseques.
Por exemplo, o Zango 5, o Zango 5000 surgiram do Zango 1 que foi um projecto de realojamento da população que vivia em zonas degradadas no Sambizanga, cadastrou-se e fez-se o realojamento e dimensionou-se as infraestruturas para essa população. O Zango passou a ser a escapatória de todos os realojamentos, as infraestruturas não foram dimensionadas para o número de pessoas que tem hoje.
QUAL SERIA A SOLUÇÃO MAIS EFICAZ?
A solução é uma palavra muito pequena chamada Manutenção. Devemos criar programas a nível municipal, governamental, para no tempo seco fazer-se a manutenção das redes. Como dito anteriormente, as chuvas acarretam os resíduos sólidos da zona não consolidada obstruindo os canais das redes de esgoto não permitindo a passagem das águas em tempos chuvosos, sendo menor a quantidade de água que passa resultando em retorno e na abertura das tampas. As administrações devem ter dinheiro suficiente para essas manutenções.
Outra grande solução seria reduzir as assimetrias entre a grande luanda e as sedes municipais e provinciais. Se em outras províncias ter as condições mínimas de habitabilidade, moradias, serviços, saúde, educação, etc, Luanda deixará de ser um polo atrativo, e as pessoas do interior não sentirão mais a necessidade de vir para Luanda.

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